
Outro dia eu estava conversando com a minha mãe e caímos num daqueles papos que começam simples, mas de repente viram um mergulho profundo na alma humana. Falávamos sobre preocupação — algo que todo mundo sente, mas poucos param para pensar no que realmente significa.
E foi aí que surgiu a pergunta:
O que é a preocupação, afinal?
O Significado da Preocupação
A palavra “preocupação” vem de “pré-ocupação”, ou seja, se ocupar de algo antes da hora. É como se a gente estivesse tentando resolver mentalmente uma situação que ainda nem aconteceu ou que, muitas vezes, nem está sob nosso controle.
Mas será que existe só um tipo de preocupação? Ou será que ela pode se manifestar de diferentes formas, dependendo da situação, da relação ou até da nossa história com a pessoa envolvida?
Tipos de Preocupação: Quando o Amor Vira Ansiedade
1. A preocupação hipotética: medo do que pode acontecer
Imagina essa situação: o filho diz para a mãe que vai viajar para o Himalaia. Frio intenso, neve, riscos reais de avalanches… A mãe, do outro lado do mundo, já começa a viver um turbilhão de emoções só com a ideia.
Nesse caso, a preocupação faz sentido — afinal, existe um risco. Mas aí entra o conflito:
Se ela pede para ele não ir, é porque se preocupa… mas também porque não quer sofrer.
Se ela deixa ele ir, sofre também, talvez ainda mais, com a ansiedade.
Essa preocupação tem nome: preocupação antecipatória.
Ela ainda não é real, mas o corpo e a mente já reagem como se fosse.
2. A preocupação concreta: o que já está acontecendo
Agora pense num neto preocupado com a avó. Ela já tem uma certa idade, enfrenta problemas de saúde e o neto quer estar presente, ajudar, acompanhar.
Aqui, a preocupação já está inserida em um cenário real. Não dá para simplesmente “desligar” essa preocupação dizendo “avó, para de envelhecer”.
Nesse caso, a preocupação nasce do cuidado, do vínculo, e também da impotência diante da natureza da vida.
Como o Cérebro Reage à Preocupação?
Do ponto de vista da neurociência, a preocupação ativa partes específicas do cérebro:
- Amígdala cerebral: que detecta ameaças.
- Córtex pré-frontal: responsável por planejar, avaliar riscos e tomar decisões.
- Sistema nervoso autônomo: o que nos deixa com o coração acelerado, tensão muscular, insônia, ansiedade…
Ou seja, a preocupação é muito mais do que um pensamento — ela vira uma reação física e emocional.
Por Que Nos Preocupamos Tanto?
A psicologia explica que a preocupação é uma tentativa (muitas vezes inconsciente) de ter controle sobre o que não pode ser controlado. A mente cria cenários para se preparar para o pior, mas, paradoxalmente, isso só gera mais sofrimento.
E na maioria das vezes, estamos preocupados com coisas que nem aconteceram — e talvez nem aconteçam.
O Que a Filosofia Diz Sobre a Preocupação?
Estoicismo:
“Preocupe-se apenas com o que está sob seu controle.”
Sêneca, Marco Aurélio e outros pensadores estoicos diziam que o sofrimento nasce do desejo de controlar o que está fora do nosso alcance.
Budismo:
O pensamento budista vê a preocupação como apego e ilusão. O antídoto? Estar no presente, praticar o desapego compassivo e confiar no fluxo da vida.
Existencialismo:
Kierkegaard dizia que a preocupação faz parte da angústia de existir. O ser humano, por ter consciência do tempo, da finitude, do outro… acaba sofrendo. Mas é justamente essa angústia que nos torna humanos e profundos.
Como Lidar Com a Preocupação?
1. Reconheça o tipo de preocupação
- É algo que já está acontecendo ou é algo que pode acontecer?
- Eu posso agir sobre isso?
2. Se houver ação, aja
Faça uma ligação, converse, ofereça ajuda. Transforme a preocupação em cuidado prático.
3. Se não houver o que fazer, solte
Soltar não é abandonar. É confiar. Use ferramentas como:
- Meditação
- Respiração consciente
- Escrita terapêutica
- Oração, fé, espiritualidade
- Terapia
4. Transforme o amor ansioso em amor presente
Às vezes, a preocupação é só o amor tentando cuidar… mas do jeito errado. O amor verdadeiro pode ser leve, silencioso, confiante.
A Preocupação Faz Parte da Vida, Mas Não Precisa Te Controlar
A preocupação mostra que você se importa, que ama, que tem vínculos.
Mas ela não precisa se transformar em prisão mental ou sofrimento constante.
Aprender a reconhecer, agir quando possível e soltar quando necessário é um dos maiores atos de maturidade emocional que podemos praticar.
E como minha mãe disse naquela conversa:
“A gente só se preocupa porque ama. Mas às vezes, amar também é confiar que tudo vai ficar bem.”

Rafaela Anaya é uma filósofa movida por uma curiosidade insaciável sobre a vida e o ser humano. Desde cedo, se encantou com as perguntas que não têm respostas fáceis e fez do autoconhecimento o seu principal caminho. Com um olhar atento e sensível, Rafaela busca desvendar os mistérios que habitam cada comportamento, palavra e gesto, acreditando que cada detalhe revela um universo inteiro de significados. Sua jornada é marcada por uma paixão genuína por aprender, refletir e compartilhar descobertas, sempre com o desejo de inspirar outras pessoas a também mergulharem em suas próprias profundezas. Para ela, filosofar é mais do que pensar: é sentir, viver e transformar cada encontro em uma oportunidade de crescimento.